Recuperação da distribuição histórica do Lince ibérico (Lynx pardinus) em Espanha e Portugal. (LIFE10NAT/ES/570)
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Biologia do Coelho Bravo
O coelho do campo, denominado de coelho bravo, pertence à classe dos lagomorfos e à família dos leporídeos (lebres e coelhos). O peso estimado de um exemplar adulta, está entre 1,5 e 2,5 kg. Em termos de apresentação física, este possuiu orelhas longas, que podem ir até aos 7 cm e uma cauda curta. Como todos os lagomorfos, os seus membros posteriores são poderosos para se adaptarem à corrida. O coelho é uma espécie fulcral nos ecossistemas mediterrânicos, devido especialmente à sua abundância e ampla distribuição, o que faz com que na Península Ibérica existam mais de 39 espécies de aves e mamíferos que se alimentam dele. É, no entanto, a presa principal de espécies emblemáticas e endémicas na Península Ibérica, tal como o lince ibérico e a aguia imperial. Dada a sua abundância e à qualidade da sua carne, o coelho começou a ser consumido de forma regular pelo homem, principalmente nos meios rurais, constituindo historicamente, a peça mais comum de porte menor em Espanha.
Coelho bravo adulto
Alimentação
O coelho é um herbívoro seletivo que varia a sua alimentação em função das características que o meio apresenta. Esta pode incluir plantas herbáceas verdes ou secas, raízes, espécies arbustivas e arbóreas (folhas e cascas). Para alcançarem o seu potencial máximo a nível reprodutivo necessitam de ingerir plantas compostas, ou seja, leguminosas e gramíneas vivazes de pequeno tamanho.
Uma das mais importantes adaptações da espécie aos ecossistemas mediterrânicos é a capacidade que possuem ao aproveitarem o pasto seco como recurso trófico. É através dele que existem grandes populações de coelhos em áreas sub-desérticas da Península Ibérica.
O coelho dedica cerca de 30 a 60% do seu tempo à sua alimentação, cerca de 20% às relações sociais e o resto do seu tempo à sua limpeza e ao seu lazer. A estratégia digestiva da espécie para aproveitamento de alimentos lenhosos e de difícil digestão é a cecografia (mecanismo fisiológico do coelho). Trata-se de uma dupla passagem dos alimentos através do tubo digestivo. Não possuindo um mecanismo digestivo longo e complexo como os ruminantes, os coelhos adaptaram-se à sua ingestão de cecotrofos (excrementos frescos formados por restos alimentares que terão passado uma única vez pelo tubo digestivo) para otimizar o aproveitamento dos nutrientes. Este processo ocorre em repouso supondo-se um aumento de 50% de tempo de permanência do alimento no organismo. Também, induz à formação de dois tipos de excrementos: os brancos ricos em bactérias e proteínas que são reingeridos, e os duros que são depositados no solo definitivamente. Estes são depositados num determinado lugar pelos coelhos do mesmo grupo social, formando latrinas. As latrinas são elementos visíveis que demonstram a presença de coelhos bravos numa determinada área, e permitem estimar-se a abundancia de coelhos em determinada zona.
As pequenas elevações do terreno são lugares preferidos para os coelhos para efetuarem as suas latrinas. Mediante a contagem de latrinas pode estimar-se a abundância de coelhos existentes.
Habitat
O coelho bravo está presente numa grande variedade de meios, sendo o matorral mediterrânico o habitat preferencial, uma vez que apresenta maiores abundâncias (especialmente se existem zonas cultivadas e o terreno é plano ou moderadamente montanhoso). As maiores densidades populacionais são atingidas em pastagens onde abunda o mato (40% da cobertura) e em pastagens cultivadas. Existem também grandes populações em zonas de mato fino sub-desértico em ambientes secos. A altitude é um fator limitante para a espécie e, é notória a raridade da mesma geralmente a partir de 1500m no norte da Península Ibérica e 1900m a sul. A espécie tem a sua maior abundância em áreas onde o clima é continental ou mediterrânico e o substrato nestas zonas permite a construção de tocas evitando as áreas calcárias. Em geral, as baixas temperaturas e elevadas precipitações não são de todo apropriadas para espécies que preferem climas secos e quentes, embora numa escala reduzida, sejam mais abundantes em zonas ribeirinhas.
Reprodução
O coelho bravo é uma das poucas espécies de vertebrados em que as fêmeas podem estar recetivas um ano inteiro. O fator que determina a entrada das fêmeas neste ciclo é a grande quantidade de proteína que ingerem. Consequentemente, o período reprodutivo do coelho depende da qualidade e abundância de pasto, e portanto, da temporada e intensidade das chuvas. Em geral, a reprodução ocorre geralmente entre novembro e junho, embora existam casos em que o período reprodutor possa ser muito maior.
Depois de uma curta dependência materna, entre 20 a 30 dias, os coelhos nascidos (3 a 6) adquirem a maturidade a nível sexual em poucos meses (quatro em O.c. algirus, nove em O.c. cuniculus). Quando as fêmeas entram num novo cio ainda que estejam a amamentar uma ninhada (pelo que é possível 12 ninhadas por ano), o mais habitual é que se produzam duas a quatro ninhadas.
Organização social e comportamento
Em geral, o coelho vive em tocas que albergam vários grupos sociais cujo tamanho depende do tamanho da coelheira, assim como da qualidade e estrutura do habitat. Os grupos familiares mais próximos formam uma colónia onde os intercâmbios de indivíduos são frequentes. Em cada grupo estabelece-se uma hierarquia social entre machos e fêmeas de maior categoria e as fêmeas de menor categoria deverão construir câmaras de cria em áreas menos protegidas da toca ou mesmo fora delas. O território de unidade familiar é defendido principalmente pelo macho dominante, apesar de todos os indivíduos participarem nestas tarefas.
O padrão da atividade é influenciado pela estrutura da comunidade de predadores. Na Península é fundamentalmente bimodal (apresenta uma curva de frequência com dois picos), com picos de atividade no crepúsculo e vida noturna moderada. Pelo contrário, nas áreas onde terá sido introduzida a espécie e que possuem um menor risco de predação, não é notório um claro padrão de atividade.
Os coelhos bravos estão adaptados ao clima mediterrânico, e são capazes de passar a temporada estival alimentando-se de pasto seco.
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