Recuperação da distribuição histórica do Lince ibérico (Lynx pardinus) em Espanha e Portugal. (LIFE10NAT/ES/570)
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Ecologia
Características
Este tipo de ecossistemas é um dos mais representativos da Península Ibérica e, está associado às regiões do clima mediterrâneo. Nestas regiões, o clima caracteriza-se por uma sazonalidade: verões secos e quentes, invernos frios e primaveras e outonos amenos e húmidos. Estes fatores climáticos, juntamente com os fatores geológicos e pedológicos, fazem com que haja um determinado tipo de vegetação conhecida como “xerófitas”, que através da principal característica de adaptação (clima quente e seco) se desenvolve. Devidos aos aproveitamentos florestais e ao uso que o homem tem dado ao longo do tempo à floresta mediterrânica e, apesar desta atualmente se encontrar longe do seu potencial natural, é possível ainda observar-se uma variedade de comunidades vegetais, mais ou menos alteradas pelo homem, ainda assim permitem que se mantenha uma diversidade vegetal e animal. Encontram-se, porém, em melhor estado de conservação todas aquelas zonas em que existe uma densidade populacional baixa ou solos que não sofreram qualquer tipo de atividade humana.
Neste tipo de vegetação e, embora a estrutura de floresta se baseie em três camadas de vegetação, formadas por um conjunto de espécies arbóreas e arbustivas de folha esclerofila e persistente, altamente resistentes à seca prolongada, e espécies herbáceas que formam a camada inferior da vegetação. Perante as mais variadas espécies de árvores podem-se citar algumas com um potencial característico mais acentuado, sendo estas: a Azinheira (Quercus ilex), o Sobreiro (Quercus suber), Carvalho cerquinho (Quercus faginea), o zambujeiro (Olea europeea var. sylvertris) e a Alfarrobeira (Ceratonia síliqua). No que se refere às espécies arbustivas destacam-se a Aroeira (Pistacea lentiscus), a Lentisca (Phyllirea angustifólia), o medronheiro (Arbustus unedo), a murta (Mytus communis), espécies de esteva (Cistus sp), etc. As espécies pertencentes ao vasto mundo herbáceo são aquelas que persistem anualmente (Terófitos).
Um fator contributivo para que as espécies vegetais apareçam nas florestas é a presença da água, aparecendo ao longo dos rios e ribeiras existentes. Como exemplo existe o choupo (Populus sp.), o freixo (Fraxinus sp.), a tamarga (Tamarix sp.), e matorrais como a salsaparrilha (Smilax aspera), a amora silvestre (Rubus ulmifolius), a madressilva (Lonicera implexa) e a hera (Hedera hélix), entre outros.
A floresta mediterrânia é um ecossistema que possuiu uma grande diversidade relativamente à fauna, fazendo-se representar por espécies de répteis, aves, mamíferos, anfíbios e invertebrados. Citando-se algumas dessas espécies, conta-se com a presença da águia imperial (Aquila adalberti), águia calçada (Hieraaetus pennatus), abutre-negro (Aegypius monachus), veado (Cervus elaphus), javali (Sus scrofa), o lince ibérico (Lynx pardinus), saca-rabos (Herpestes ichneumon), a raposa (Vulpes vulpes), o texugo (Meles meles), o sardão (Lacerta lepida), a gineta (Genetta genetta), o coelho (Oryctolagus cuniculus), os papa-amoras (Sylvia sp.), entre muitos outros.
Espécies como o lince e a águia imperial provêm de uma dada região geográfica (Península Ibérica) e o seu habitat natural é sem dúvida este tipo de floresta. A degradação destes habitats encontra-se associada ao declínio da população do coelho, umas das principais razões pela qual as espécies sofreram um declínio considerável.
Antecedentes da floresta mediterrânica
A paisagem atual no ambiente Mediterrâneo Ibérico é o resultado da evolução de uma série de diversos acontecimentos que resultaram em mudanças na evolução contínua no que diz respeito à composição das florestas. Dito de outra forma, a floresta mediterrânica nem sempre esteve aqui, conforme registos polínicos, higroturbosos, etc. sabendo-se que na Península Ibérica há cerca de três a cinco milhões de anos, as formações florestais estavam dominadas por táxones subtropicais e que até 3,2 a 2,3 milhões de anos produzem uma serie de trocas climáticas que repetem estas formações e permitem o aparecimento de coníferas, como o pinheiro e o cedro juntamente com outras espécies tipicamente mediterrânicas, como as oliveiras, as pistácias e os carvalhos.
Posteriormente, movimentos glaciares provenientes da Europa, estima-se que acima de vinte, provocam uma alternância de bosques de diferentes estruturas, predominando os pinhais e os carvalhais. A última glaciação, há cerca de 20.000 anos atrás, é a principal responsável pela atual estrutura florestal do nosso país: bosques caducifólios com influência do clima atlântico no norte e o bosque mediterrânico que constituiu o clímax florestal (aproximadamente 75 % da Península) dominado pelo clima mediterrânico (com a estrutura e espécies descritas anteriormente).
O posicionamento, bem como a forma em que a paisagem na Península Ibérica se encontra, foi um fator decisivo nos últimos tempos. Sem dúvida que a relação do homem com o seu meio ambiente nem sempre terá ido em detrimento do mesmo. No Paleolítico, as pequenas tribos de caçadores tinham um carácter nómada para se alimentarem. Estes grupos/tribos deviam interagir com o meio ambiente sem causar alterações ambientais significativas. A partir do Neolítico, a população sedentarizou-se, numa primeira fase em pequenos núcleos urbanos, desenvolvendo uma divisão a nível laboral (agricultura, pecuária, mineração, etc.) e cada vez com uma maior pressão no meio ambiente. A revolução industrial foi, sem dúvida, um salto qualitativo no que diz respeito ao posicionamento paisagístico, devido em parte ao aumento populacional. Calcula-se que nesta época a Península Ibérica contava com 64% de área florestal, percentagem essa superior à atual. Em 1859, estimava-se que dos 32 milhões de hectares, entre 5 e 7 foram alienados pela “Ley de Desamortización General” e outras alterações políticas. Esta mudança de titularidade provocada pela política liberal do momento provocou um abate de áreas de matorral, montados de azinho, montado de sobro, etc. para vender-se lenha e toda a matéria proveniente de tal, devido à crescente procura industrial de matérias-primas (mineração, fundição, ferroviária, etc.). Muitos desses terrenos passaram para mãos privadas, o que fez com que houvesse um aumento significativo da produção agrícola de vinhas, olivais e áreas de pastagens. Uma prática muito utilizada à época e que chegou até finais do século passado, consistia nas áreas de pastoreio na realização de queimadas de 3 em 3 anos, de modo a proporcionar a obtenção de melhores pastagens naturais resultantes do aparecimento de novos rebentos. Os incêndios constantes foram um fator relevante para que desaparece-se grande parte da vegetação que, ainda hoje se pode observar através das marcas deixadas daquela época. Um outro exemplo mais recente, reflexo de uma má gestão da área florestal, acontece entre 1946 e 1974, em que cerca de 600.000 hectares de floresta mediterrânica são utilizados para a produção de pinheiros e eucaliptos. Nas serras de Andújar, Cardenã e Montoro é notória a presença das espécies florestais referidas anteriormente. Anos mais tarde, o crescimento desse mesmo arvoredo demonstra a falta de eficácia na política até então praticada. Uma grande percentagem do habitat natural do lince ibérico sofreu alterações devido à existência destas espécies. Atualmente, estima-se que o lince ibérico ocupe cerca de 15 a 20% do pinhal em Cardenã-Montoro e Andújar. Toda esta deterioração do habitat coincidiu com o aparecimento da mixomatose, uma grave doença contagiosa que atingiu as populações de coelhos (95%), principal alimento do lince ibérico. Depois chegaria a doença hemorrágica viral.
As divergências entre proprietários, políticas comunitárias, políticas conservacionistas e cidadãos que pretendem um maior uso público, deveriam ser minimizadas de modo a que na tentativa de haver uma construção a nível ecológico entre as partes da floresta mediterrânica, promovessem e apoiassem a visibilidade económica com a diversidade ecológica e gestão sustentável a longo prazo sobre a crise económica. Isso evitaria mudanças no futuro quer em grandes manchas de floresta mediterrânica quer mesmo na sua estrutura que, desde a revolução agrícola nos anos 60 foi simplificada.
Clima e estratégias da floresta mediterrânica
O clima é um dos fatores que limita as condições de produção e disponibilidade de alimento na área do Mediterrâneo. O crescimento das plantas na floresta mediterrânica é lento, em parte devido à falta e irregularidade da chuva. Os verões quentes e os invernos húmidos, são benéficos para o crescimento das plantas, no entanto o facto de o clima não os oferecer da forma mais benéfica, faz com que haja um impedimento no desenvolvimento natural das mesmas. Assim, no verão, a vegetação esclerofila (folhas duras, pequenas) adota estratégias para combater a falta de água, tais como a produção de óleos, ceras, pelos, etc. Estas estratégias de fotossíntese, apesar de lentas, rentabilizam o crescimento da planta. Em geral, nunca se poderá pensar em elevadas produções de madeira, mas sim de lenha para carvão. Depois do verão, a chegada tardia de chuvas em alguns anos, juntamente com a queda substancial da temperatura, fazem com que a produção de pasto, tão esperado bem como necessário para os herbívoros, seja escassa, encontrando-se numa maior abundância na chegada da primavera. Geadas precoces e tardias também podem danificar a frutificação ou floração das plantas, o que aumenta a irregularidade no que se refere à abundância de alimentos. O clima é sem dúvida um condicionador que pode vir a ser fulcral na criação do solo. As folhas da vegetação mediterrânica, no geral duras e com nervos grossos e paredes celulares grossas não permitem processos de criação de substratos. Uma importante adaptação da floresta mediterrânica, dada a alta probabilidade de incêndios no verão, é a capacidade de rejuvenescimento de uma vasta variedade de plantas, depois destes acontecerem. As cinzas, provenientes destes incêndios, são ricas em fósforo, potássio e cálcio dando um grande contributo, juntamento com o nitrogénio ao processo de brotação das plantas. Uma curiosa adaptação ao fogo é ocaso do sobreiro. A cortiça, camada espessa de células ocas e mortas, protege e impede que o calor se entranhe nas áreas vitais da árvore.
Finalmente, é importante referir-se o processo evolutivo entre a fauna e a flora na floresta mediterrânica, onde as aves do Norte da Europa, no Outono, tendem a migrar, coincidindo com a fase não-reprodutiva, para a bacia do Mediterrânio e África. A abundância de frutos apetecíveis e carnudos, ricos, essencialmente em proteínas como os artrópedes, faz com que muitas espécies usem estas áreas como paragem ou como passo migratório. Tal facto, calculado em cerca de 300 milhões, possuem um papel fundamental na dispersão de todas as sementes. Mas, esta não é uma tarefa apenas das aves, também os carnívoros como a raposa (Vulpes vulpes), o texugo (Meles meles) e a fuinha (Martes foina), dão um grande contributo na dispersão das mesmas. A falta de comida que existe na época outono-inverno coincide com a frutificação de grande parte do bosque. O resultado é facilmente visto pela alta percentagem de sementes nos seus excrementos.
Usos e exploração da Floresta Mediterrânica tradicional
Tradicionalmente a floresta mediterrânica terá sofrido alterações feitas pelo homem para dar espaço à agricultura e pecuária, tornando-se um ecossistema natural e cultural dotado de grande importância histórica. Todo o seu significativo potencial e valorização patrimonial terão feito com que a evolução da sociedade desempenha-se um ponto-chave na economia nas zonas rurais. Foi realizada de forma sistemática a remoção da cobertura lenhosa para a obtenção de terras agrícolas com o objetivo de se conseguir uma melhor pastagem para o gado. Numa escala mais reduzida desta natureza e, através de pequenas alterações, pode dar-se o caso de existir um aumento da biodiversidade de uma área. No entanto, este processo pode desencadear um desequilíbrio no que diz respeito a determinadas espécies. Muitas vezes, este tipo de transformações leva à alternância da floresta mediterrânica bem conservada com superfícies de pastagens, com a presença de pequenas parcelas com cereais, olival e outros cultivos, o que favorece as próprias pastagens e habitats. Tais alterações da floresta primitiva a favor de uma atividade económica, não necessita de excluir a presença de animais como o lince, que pode coexistir sempre que as condições do habitat sejam minimamente favoráveis para a espécie e que haja uma presença suficientemente plausível de coelhos. Embora os melhores territórios, no que toca à qualidade do habitat e à abundância de presas, sejam dominados por indivíduos dominantes, também se verifica a existência de linces mais jovens dispersos e adultos em olivais e pastagens com mato suficiente. A presença do lince não se torna um problema para o desenvolvimento da própria atividade e habitat, mas sim um fator de enriquecimento do habitat perante a sua importante função ecológica e como algo precioso no nosso património natural.
A floresta mediterrânica clímax tem pouco valor produtivo para o homem, o qual obtém maiores benefícios sempre que este se encontre numa fase de degradação. A pastagem é, portanto, o principal suporte nas atividades económicas atuais, na atual floresta mediterrânica. Este ecossistema também permitiu que houvesse uma fauna importante associada, destacando-se como exemplo as cegonhas-brancas (Grus grus) no Inverno ou os pombos torcazes (Columba palumbus). Este complexo sistema de produção criado pelo homem, agro-silvo-pastoril, cenário de caça, de rotações e cultivos, foi-se simplificando devido ao êxodo rural das populações. Atualmente, um montado de azinho extreme (área de azinheiras com pastagens sub-coberto) tem um uso de produtividade limitado em determinadas épocas do ano, aproveitadas principalmente pelo gado e pela caça maior. Isto, juntamente com a baixa rentabilidade da floresta deveria ser um fator determinante para a sensibilização do proprietário de terras florestais à diversificação económica em áreas de maior eficiência, apoiado em ajudas proporcionando qualidade e biodiversidade face à elevada produção e preços baixos. A exploração excessiva de propriedades (cultivo intensivo, pecuária intensiva, podas abusivas, falta de regeneração natural) que provoca uma diminuição do potencial da floresta necessitava urgentemente de uma correção. Esta potencialidade permite gerar uma produção elevada de recursos aproveitáveis. É exigido, atualmente, uma gestão compatível da caça com o gado e a cortiça, uma vez que são os principais recursos no diversificado meio ambiente. O mato, está a ser um fator decisivo para a alimentação da caça maior na época de Verão, destacando-se o seu papel fundamental na regeneração natural de azinheira ou sobreiros nos primeiros anos de vida (96% do montado de sobro não possui uma regeneração adequada). Além disso, esta complexidade estrutural de habitats favorece outras espécies como o javali, aves, roedores, etc. e os seus predadores que também usufruem dele para refúgio e alimento. É de salientar-se o coelho, um elo vital na cadeia alimentar de 40 espécies de predadores, alguns deles com especificidades nas suas capturas, como é o caso do lince ibérico e da águia imperial. O coelho, é também uma espécie fundamental para a caça menor. A formação de um mosaico vegetal que intercala pastagem, junto de formações mais densas de plantações, em que também se aproveita a caça menor e a caça maior, num adequado equilíbrio populacional, junto com o efeito de bordadura, é mais autossustentável, não necessitando de incorporação de alimentos adicionais extras (caça maior na Serra Morena). Também a heterogeneidade destes matos favorece a produção de mel e de cogumelos. Recentemente proprietários privados vêm com interesse os últimos ensaios de micorrização de fungos, como a trufa negra ou outras de alto valor comercial.
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